Armadura do vaqueiro
É possível dizer que o couro acompanha a História do Ser Humano desde a sua mais distante existência. Foi no couro que nos cobrimos do frio e nos agasalhamos para sobreviver à chuva, ao vento e à neve.
Na Antiguidade, o couro também estava lá. Foi no couro de cabras, carneiros, cordeiros e ovelhas que começamos a escrever nossa história em pergaminhos.
E foi no couro que começamos a definir nossos gostos estéticos. Nos uniformes militares, nas calças dos rock stars ou nas jaquetas dos rebeldes.
O couro circula também pelo sertão e pela caatinga. É no couro cru, ornamentado com delicadeza, que o gibão, a calça, o chapéu e a luva do vaqueiro ganham vida.
O couro protege o sertanejo dos galhos afiados e de outros desafios da vida árida. A roupa quente, que pode pesar muito quilos, é a armadura do aboiador e também a maior demonstração de seu brio.
O sertanejo é, antes de tudo, um homem vaidoso. E para se destacar, nada melhor do que ornamentos bem feitos e corte bem definido em seu gibão.
A pele mais grossa, que aguenta a lida dura da caatinga é a do boi. Mas é no couro do carneiro ou do bode, mais finos e baratos, que a peça vira figurino.
Foi com essa inspiração que Luiz Gonzaga incorporou brilhantemente o gibão ao imaginário popular brasileiro. É o que faz João Gomes com seu chapeuzinho por aí.
Se você ainda olha para o couro cru do vaqueiro como algo caricato, repense. Um bom gibão, cheio de detalhes e belezas, pode custar milhares de reais, investidos em sabedoria, exclusividade e técnicas de costura.
A armadura do vaqueiro pode ter ganhado o asfalto e a cidade grande, mas pra sempre vai representar o aboiador que canta sua saudade.
O texto de hoje foi publicado originalmente nesta sexta-feira (23) no Pronto Jornal, página de Instagram e site em que faço a direção de conteúdo. Tive a sorte de ter a narração e edição do talentosíssimo Pedro Philippe.
A ideia aqui é mostrar os caminhos que o texto pode ganhar. Os rumos que a palavra tem. Sai daqui, vai pra voz macia de Pedro e para as imagens deslumbrantes de Hélio Filho, que ilustra o vídeo acima e as fotos desta publicação, e ganha o mundo, ganha vida.



